Paraíso ameaçado

O Globo, Amanhã, p. 10 e 11 - 19/02/2013
Paraíso ameaçado
Assoreamento no entorno do Refúgio de Vida Silvestre do Rio Pandeiros ameaça a área, conhecida como Pantanal Mineiro. Atividades predatórias são as vilãs

Felipe Sil
felipe.sil@oglobo.com.br

Dourados brincam junto a traíras e surubins em lagoas rodeadas de pântano. Ali perto, cachoeiras e córregos completam o cenário bucólico, carregado em tons de verde e amarelo. Criado em 2004, o Refúgio Estadual de Vida Silvestre do Rio Pandeiros se espalha por seis mil hectares de Cerrado e de Mata Seca no município de Januária, em Minas Gerais. Só que o assoreamento provocado pelo desmatamento de veredas e outros tipos de vegetação nas bordas de rios e córregos virou uma ameça constante à tranquilidade do local.
Os perigos não estão, neste caso, dentro de um espaço protegido. Encontram-se do lado de fora, mas entranham-se pelas veias do refúgio: os rios. No entorno da região, uma área de proteção ambiental com 210 mil hectares deveria funcionar como uma espécie de proteção à poluição, desmatamento e outras ameaças à sobrevivência do local.
Só que empreendimentos de infraestrutura ou agronegócio fora da reserva estão levando o assoreamento para a área. A quantidade de areia carregada pelo Rio Pandeiros já ocasionou a desativação de uma pequena central hidrelétrica no entorno. Outros fatores que colocam em risco a saúde do refúgio são a expansão desenfreada da fronteira agrícola e plantio de eucaliptos sem critério de sustentabilidade. Além de desmatamento ilegal para a produção de carvão, incêndios, caça e pesca predatória.
- Toda área protegida depende também da realidade de seu entorno. Não é uma ilha de conservação isolada. Logo, órgãos públicos, entidades privadas e população em geral precisam debater e desenvolver modelos de desenvolvimento que observem as regiões como um todo. Isso, claro, com respeito à legislação e atenção às características de solo, clima e relevo - ressalta Michael Becker, coordenador do Programa Cerrado-Pantanal do WWF-Brasil.
Sofrem o pacu, o piau-verdadeiro e o curimatã, algumas espécies migratórias que passam os seus dias na espécie de berçário natural que o Rio Pandeiros se transformou dentro do refúgio. A área é conhecida como o Pantanal Mineiro. Afinal, reproduz, em menor escala, as paisagens da conhecida vegetação, que divide as áreas entre Brasil, Argentina, Bolívia e Paraguai.
O local é escondido e não tão conhecido, mas nele já foram registradas quase 50 espécies de peixe. Por este motivo, o espaço é considerado fundamental para a revitalização do Rio São Francisco. A região também abriga e oferece alimento para inúmeras aves, caso do martim-pescador, pato-do-mato, mergulhãopequeno e garça-branca-grande. Além deles, lá vivem jacarés e capivaras, além de grandes felinos, como a suçuarana.
- No Rio Pandeiros estão quase todas as espécies grandes migradoras e de importância comercial para a pesca. A sua relevância local é inquestionável, pois contribui para a manutenção dessas espécies e também de uma rica fauna - comenta o biólogo Carlos Bernardo Mascarenhas, mestre em Ecologia, Conservação e Manejo da Vida Silvestre da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
A riqueza da fauna e da flora chamou a atenção do poder público. Em 2009, foi decretado pelo governo Federal um plano de ação, batizado de Mosaico Sertão Veredas-Peruaçu. Com quase dois milhões de hectares distribuídos em 11 municípios do Norte de Minas Gerais e Sudoeste da Bahia, abriga 12 unidades de conservação federais, estaduais e particulares, além de terras indígenas. A ideia de um Mosaico é promover uma gestão integrada e participativa das áreas protegidas.
Valeriano Silva, gerente do refúgio, diz que os maiores riscos estão contidos nas "atividades ilícitas e predatórias", causadas por madeireiros, pescadores, caçadores e incendiários, que ateiam fogo na mata.
- Hoje, realizamos o monitoramento e o controle da pesca predatória, da caça e do desmatamento no Rio Pandeiros, além de atividades de prevenção e combate a incêndios florestais - garante Silva. - Para conter as ameaças à sobrevivência da região, o objetivo agora é recuperar as áreas degradadas e buscar a gestão participativa do território junto a outros órgãos.

O Globo, 19/02/2013, Amanhã, p. 10 e 11
UC:Refúgio da Vida Silvestre

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