Seca permanente ameaça Reservas Biológicas no extremo norte do Espírito Santo

Século Diário - http://www.seculodiario.com.br/ - 10/09/2013
Pesquisadores da Associação de Amigos do Museu de Biologia Mello Leitão (Sambio) constataram em estudo recente que a seca permanente no extremo norte capixaba ameaça a preservação da fauna e da flora nas Reservas Biológicas (Rebios) Córrego do Veado, em Pinheiros; Rebio Sooretama, que engloba áreas dos municípios de Linhares, Jaguaré, Sooretama e Vila Valério; e Córrego Grande, em Conceição da Barra.

Os pesquisadores evidenciam que não se trata de uma seca periódica, mas sim definitiva, pois nem em casos de chuvas intensas a bacia terá condições de armazenar água, devido ao estágio avançado de degradação da área. Além disso, a sub-bacia do Córrego Santo Antônio, que alimenta a Rebio Córrego do Veado, foi classificada como em situação 'trágica'. Segundo os pesquisadores, os pequenos rios que alimentam a sub-bacia estão tomados de espécies de taboas, plantas que funcionam como bioindicadores de águas poluídas.

A pesquisa foi realizada pelo grupo de estudo de peixes do "Projeto DiversidadES: efetividade de Unidades de Conservação no Estado do Espírito Santo para Proteção da Biodiversidade", que atua com outros pesquisadores da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes).

Um funcionário da Rebio Sooretama relatou aos pesquisadores que os córregos visitados por eles no ano passado estão quase secos. Outro funcionário, da Rebio Córrego do Veado, que trabalha há mais de 20 anos no local, estimou que, se nenhuma ação de recuperação da área for realizada, o Córrego estará seco em menos de 10 anos, dada a redução gradativa da vazão da água.

Segundo o diretor técnico da Sambio, Ronaldo Pinheiro Martins, o desmatamento sem critério técnico aliado às represas construídas pelos latifundiários são os principais fatores que levaram a região à situação de seca. Ele também relatou que quase a totalidade dos córregos e nascentes não tem proteção de mata nativa, o que provoca enxurradas em casos de chuvas muito fortes e, posteriormente, o retorno da seca.

A diretoria da Sambio enviou um e-mail à promotora de Justiça dirigente do Centro de Apoio Operacional de Defesa do Meio Ambiente (Caoa), Isabela de Deus Cordeiro, solicitando que seja aplicado um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) que vise ao cumprimento do Código Florestal no que se refere à preservação de Áreas de Proteção Permanente (APP). Ainda não foi obtida nenhuma resposta.

Os pesquisadores também apontam que a maioria dos proprietários de terras na região se dedica à criação de gado, plantio de café e eucalipto. "A simples proteção por cercas dos rios nas distâncias estabelecidas no código, devido a estarem próximas a Unidades de Conservação (que são grande bancos de sementes) já permitirá que estas áreas se recuperem naturalmente", pontuou a Sambio, no documento enviado à promotora.

A entidade propõe um encontro para debater a questão no Museu de Biologia Mello Leitão, com representantes das Unidades de Conservação e dos Ministérios Públicos Estadual e Federal, do Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama), Instituto Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Iema) e Instituto de Defesa Agropecuária e Florestal (Idaf).



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