O ameaçado mico-leão-dourado tem refúgio em antiga reserva biológica

G1 - http://g1.globo.com/ - 20/03/2015
O TG vai atrás dos micos em reserva fluminense e mostra como os moradores ajudam, com o reflorestamento, a salvar a espécie


Neste sábado (21/03), o Terra da Gente tem o privilégio de ficar frente a frente com um tesouro da Mata Atlântica, o mico-leão-dourado. O bicho é símbolo de depredação e ao mesmo tempo de recuperação da natureza. A viagem é pelo norte do estado do Rio de Janeiro, onde a equipe do TG apresenta o trabalho dos soldados da preservação, que permite a sobrevivência desta joias de nossas matas. Um história, de sucesso, que garante hoje uma grande população de micos nas matas fluminenses. O programa deste sábado tem ainda pescaria e o quadro Hora do Rancho, com uma dica de quibe de peixe.

Release TG 848 - Poço das Antas

Renascendo para a vida

Um grito de socorro ecoa na mata. Quem pede ajuda? Tem cara de leão, mas é frágil diante da irresponsabilidade humana. O símbolo nacional, presente na cédula de 20 reais, quase foi completamente extinto do Planeta. Isso só não aconteceu graças a um bravo exército de ambientalistas. O mico-leão-dourado só existe em um tipo de floresta, a mata atlântica de baixada, que predomina na região norte do estado do Rio. Mas a área hoje não passa de dois por cento do total. A sobrevivência da espécie só é possível hoje graças a lugares como a Reserva Biológica Poço das Antas. Foi a primeira reserva biológica do País, criada há 40 anos no município de Silva Jardim.

Quando criada, a reserva era o único fragmento de mata do Brasil em que havia micos-leões. Os bichos perderam seu hábitat e se tornaram vítimas do tráfico. A maioria deles morria no meio do caminho. Nos anos 70 não havia mais que 200 animais em liberdade. A extinção parecia inevitável. A solução encontrada por pesquisadores brasileiros e americanos foi misturar a genética dos micos da reserva com a de outros animais de todo o mundo. A busca percorreu parques e zoológicos e 500 animais participaram do programa. Os selecionados foram levados primeiro para os Estados Unidos, onde experimentaram pela primeira vez a vida fora da jaula. Eles foram soltos na área de visitantes do zoológico em Washington. Com a ajuda de veterinários e biólogos, aprenderam os primeiros passos da vida selvagem. Depois de seis meses de treinamento, chega a hora de voltar ao Brasil.

Na reserva Poço das Antas, no Rio de Janeiro, um grande viveiro os espera. Ali, os primeiros micos-leões resgatados passam a quarentena, até o dia de ganhar a liberdade. Para os micos, tão diferente quanto perigosa. Como fugir de predadores? Reconhecer alimentos venenosos? São lições que o cativeiro não ensina. E por que não um animal ensinando o outro? A mistura deu certo. Hoje há filhotes de micos que vieram do zoológico na imensidão verde da reserva. Encontrar os pequenos primatas é missão árdua. Os pesquisadores da Associação Mico-Leão-Dourado levam a equipe do Terra da Gente para uma mata vizinha, onde alguns animais carregam colares transmissores.

O rádio da bióloga Andréia Martins alerta que há um grupo de mico-leão por perto. Como o remanescente é pequeno, os animais estão sempre disputando espaço. Matas como a da reserva possuem frutos que o mico-leão-dourado come, a exemplo do araçá. Por isso, eles gostam tanto dessa região. A fruta parece uma goiaba, docinha. Os animais desse grupo são descendentes de micos que nasceram em zoológico e por isso mesmo eles são dóceis. A menos de meio metro eles vêm se alimentar, sem nenhum medo. Mas a aproximação dura pouco. Acabou a comida, o animal vai embora.

As pesquisas da Associação mostram que a interação com o homem não traz prejuízos. Os animais preservam instintos como o de buscar alimento nos ocos das árvores. Na reprodução, a cada gestação nasce um par de gêmeos. Quando ficam adultos, são expulsos e obrigados a formar novos grupos em outras áreas. E é aí que mora o problema. Andréia Martins diz que a maioria da área de ocorrência já está ocupada por micos ou é tão pequena que não cabe mais famílias.

Em 30 anos, os ambientalistas conseguiram um salto gigantesco na população de micos-leões. De pouco mais de 200 na década de 1970 para 3.200 animais nos dias de hoje, muito mais que a meta. O bicho está solto, mas ainda precisa de casa para morar. Luis Paulo Ferraz, secretário executivo da Associação, diz que hoje os bichos estão numa situação melhor que no passado, mas longe de dizer que o mico-leão está salvo da extinção. A bióloga Andréia Martins comenta que "nosso desafio agora é conseguir essas áreas, essas matas, para que esses micos sobrevivam nos próximos 100, 200 anos."

Mais casas para novos donos

O que era floresta virou cidade e pasto. Da Mata Atlântica no norte fluminense sobraram apenas algumas ilhas de vegetação, onde se esconde um símbolo nacional: o mico-leão-dourado. Os animais jovens não encontram espaço para formar suas famílias, são expulsos do grupo e morrem. Por muitos anos a reserva Poço das Antas, com cinco mil hectares, foi o refúgio de muitos animais. Mas com o crescimento da população desses primatas, que aumentou 16 vezes em três décadas, é preciso mais.

A reserva não tem tamanho suficiente para garantir a preservação das espécies. Ela precisa estar ligada a outros fragmentos. Esta ligação é um trabalho bem complicado, mas não impossível. Aliás, o que não é possível para quem conseguiu salvar o mico da extinção? Mais uma vez os soldados da preservação vão à luta, armados de sementes que formarão as novas florestas da mata atlântica. Do mato, as sementes vão para os viveiros mantidos por seis famílias de um assentamento rural. Ali nascem as mudas e a consciência de um novo futuro. Dona Graça Morais, agricultora, diz que antes mal sabia o nome das árvores em volta do sítio, e hoje vê a floresta com outros olhos.

O marido, João Morais, também agricultor, diz que a lida faz bem para o corpo e a alma. O amor pela flora inspirou até o nome das filhas: Acácia e Vitória Régia, que gostam de brincar de plantar. Aprendem desde cedo o valor da natureza. Esse ano o casal deve produzir 60 mil mudas de árvores nativas da Mata Atlântica. Todas serão vendidas para projetos de reflorestamento da Associação Mico-Leão-Dourado. Dona Graça já imagina como as plantinhas ficarão bonitas e imponentes: a bela aroeira, o saboroso araçá, e o florido fedegoso. São olhos de quem sabe a importância de enxergar o futuro.

Os viveiros de Silva Jardim cultivam 124 espécies. O que sobra da formação das mudas é depositado no banco de sementes. E quem poupa garante o socorro em momento de aperto. Nas áreas já reflorestadas, o resultado do esforço: árvores plantadas há dois anos crescem vigorosas. O corredor ecológico plantado no meio do pasto uniu dois fragmentos de mata. Os micos conseguem passar de um lado para o outro. Aumentou a oferta de comida e de espaço. O banco da consciência junta moedas para preservar um grande patrimônio nacional.

Tucunaré-amarelo, mas preto e branco

O norte do Rio de Janeiro é uma mistura de realidades. De um lado, a preservação; do outro, o desenvolvimento. E ainda sobra espaço para o lazer, a diversão. Entre os municípios de Araruama e Silva Jardim, o verde da Mata Atlântica margeia um enorme espelho d'água. A represa de Juturnaíba tem 43 quilômetros quadrados e até seis metros de profundidade. Apesar de não ser um represamento natural, este é um santuário da fauna selvagem, principalmente de aves. Para o gavião caramujeiro (Rostrhamus sociabilis), abundância de água é abundância de comida. Como o próprio nome diz, ele adora caramujos. Não pode ver um de bobeira na flor d'água.
O bico já é desenhado para arrancar o molusco da concha. Juturnaíba é uma lagoa natural que virou represa e tem um grande atrativo, a pesca esportiva. O nome Juturnaíba vem de uma crença indígena antiga: a lagoa mal- assombrada. Por causa do urutau (Nyctibius griseus) e seu canto, os moradores ficavam assustados. Com o passar do tempo, o urutau sumiu e quem apareceu foi um peixe amazônico introduzido em águas fluminenses.

No começo da pescaria o repórter Marcelo Ferri fisga um tucunaré pequeno. É sinal de que tem peixe por lá. Para pescador acostumado com rio, a represa é bem diferente. Às vezes os cardumes não estão na margem ou estão escondidos na sombra dos tocos. Diante da fartura natural de comida no lago, as iscas são dispensadas. A equipe do TG resolve mudar a estratégia e segue em direção ao rio São João, que abastece o reservatório.

Em alguns trechos ele é bem servido de mata ciliar. Em outros, corta fazendas de gado e alaga os brejos. Escolhido o ponto para a pesca, a expectativa mora debaixo d'água, mas as belezas se revelam fora dela. E o peixe? Parece que a escolha dessa vez não foi a melhor. A equipe segue percorrendo os caminhos de Juturnaíba atrás de mais peixes, e sempre maiores. Em um dos flutuantes para captação de água na região dos lagos, os dutos servem de esconderijos dos tucunarés. A represa tem muitos braços. Seria algum deles a morada dos cardumes?

Não é só o tucunaré que foi introduzido na represa e a pesca rende alguns exemplares de traíra. Logo vem a surpresa, um exemplar muito diferente dos que viram antes: um tucunaré preto. A sorte começa a melhorar. O repórter Marcelo pega um exemplar macho, que enrosca na vegetação. Vem a chuva, os peixes somem e a equipe do TG sai em busca de outro ponto, desta vez onde tem água bem turva. O peixe que apareceu surpreende, um tucunaré branco. Dos três peixes que pescaram, todos são da espécie tucunaré- amarelo, com tons bem diferentes, mas a valentia na briga com o pescador é a mesma. Só variam as cores e os tamanhos. A esta altura, os olhos já se encantaram. Seja na floresta, no ar ou na água, Juturnaíba reúne as maravilhas de um lago abençoado!


Programa Terra da Gente*
Rua Regina Nogueira, 120 - Jardim São Gabriel - Campinas - SP - CEP: 13.045-900 - Telefones: (19) 3776-6488/ 3776-6460 e 3776-6593.

*O programa Terra da Gente é exibido pelas seguintes emissoras: EPTV (Campinas, Ribeirão Preto, São Carlos e Varginha-MG); TV Diário (Mogi das Cruzes, SP); TV Centro América (Cuiabá, MT); TV Centro América Sul (Rondonópolis, MT); TV Centro América Norte (Sinop, MT); TV Terra (Tangará da Serra, MT); TV Morena (Campo Grande, MS); TV Sul América (Ponta Porã, MS); TV Cidade Branca (Corumbá, MS); TV Asa Branca (Caruaru, PE) e TV Tapajós (Santarém, PA). Sobre dias e horários, consultar a programação da emissora local. O Terra da Gente é exibido também para todo o Brasil, aos domingos, às 7h, via antena parabólica (o canal Superstation da Globo) e para 116 países dos 5 continentes pelo Canal Internacional da Globo.



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Produção Cultural:Cinema, TV, Vídeo

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