'Tapete' de algas invade mar de Noronha

FSP, Ciência+Saúde, p. C6 - 09/04/2015
'Tapete' de algas invade mar de Noronha
Vegetação amarelada, que chegou a ser confundida com vazamento de óleo, preocupa ambientalistas no arquipélago
Segundo pesquisadores, mancha não é nociva à saúde dos banhistas, mas pode provocar desequilíbrio ecológico

LUCAS REIS GABRIEL ALVES DE SÃO PAULO

Imensos tapetes amarelos que flutuam sobre o mar alteram a paisagem das praias do arquipélago de Fernando de Noronha (PE) desde segunda-feira (6) e intrigam pesquisadores e turistas.
O efeito é causado por algas pardas, do gênero Sargassum, que se acumulam perto da ilha, liberando forte odor e uma substância oleosa. Pesquisadores até mergulharam em meio à vegetação, mas ainda não encontraram uma explicação definitiva para o fenômeno repentino.
Inicialmente confundidas com vazamentos de óleo, as manchas ocupam espaços maiores do que campos de futebol, formando blocos densos. Apesar de não ser nociva à saúde, as manchas de algas preocupam ambientalistas.
"Falando de animais microscópicos e outros seres, como peixes e crustáceos, pode ser que haja invasores com potencial de comprometer a nossa fauna e um desequilíbrio ecológico", diz Tadeu Oliveira, coordenador de fiscalização do Parque Nacional Marinho de Fernando de Noronha, do ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conversação da Biodiversidade).
A principal hipótese para a aglomeração das algas está ligada à temperatura do mar. "O sol esquentou muito a água, o que pode ter favorecido esse tipo de alga", diz Leonardo Veras, engenheiro de pesca e curador do Museu Tubarões de Noronha.
"Vivo aqui há 25 anos e jamais vi algo parecido. As ocorrências de algas em outros anos não representam 1% do que se vê agora", diz. "São como ilhas flutuantes."
Segundo a professora Mariana Oliveira, do Instituto de Biociências da USP, esse gênero é comum no Caribe e forma o chamado mar de Sargaço, região cercada por correntes oceânicas.
"Seria interessante investigar a origem e extensão desse evento em Fernando de Noronha, se essa espécie é nativa ou se veio de fora, pois essas manchas podem flutuar por grandes distâncias. E ficar atento se o evento se repetir", afirma Oliveira.
REFÚGIO
Docentes da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina) que trabalhavam em outro projeto na área coletaram amostras das algas.
"As mudanças relacionadas ao aquecimento do planeta podem mudar a configuração das manchas oceânicas, que geralmente aparecem no Atlântico Norte", afirma o professor Paulo Horta, do Centro de Ciências Biológicas da universidade.
"O Sargassum pode funcionar como refúgio e levar junto algumas espécies", diz Horta. Isso ajuda a explicar a alta concentração de lixo --garrafas PET, sandálias japonesas, embalagens chinesas, belgas e sul-africanas-- encontrado preso às algas.
Na ilha, o fenômeno assustou turistas, que viram as manchas ao sobrevoar a área e imaginaram que se tratava de um vazamento de óleo.
"As pessoas ficaram assustadas no começo, mas agora virou apenas curiosidade", disse Nina do Nascimento, recepcionista de uma pousada.

FSP, 09/04/2015, Ciência+Saúde, p. C6

http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidiano/215216-tapete-de-algas-invade-mar-de-noronha.shtml
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