OESP, Vida, p. A12 - 03/02/2005
Caramujo africano vira praga em reserva no Rio
Karine Rodrigues
Um invasor silencioso, extremamente lento, mas voraz, está afetando o equilíbrio do ecossistema da Reserva Biológica de Poço das Antas, a maior unidade de conservação do mico-leão-dourado no mundo. A área de quase 6 mil hectares situada em Silva Jardim, na parte central costeira do Estado do Rio, onde vivem também outras espécies em risco de extinção, está tomada por um tipo de caramujo natural da savana africana, que se prolifera aceleradamente e é um excelente hospedeiro de parasitas.
"Basta imaginarmos que a permanência do mico-leão-dourado na natureza depende do que ocorre aqui para termos uma idéia do risco que representa a existência de uma espécie invasora na reserva. Ainda não sabemos se os macacos comem o caramujo, mas a simples presença dele já causa um desequilíbrio na cadeia alimentar", alertou Fábio Faraco, da Coordenação de Manejo da Fauna na Natureza do Ibama.
O caramujo, conhecido como Achatina fulica, está presente em 22 Estados do Brasil, entre eles, São Paulo. "Por tratar-se de uma unidade de conservação, não podemos matá-los com fogo. Por isso, eles são esmagados, enterrados e cobertos com uma camada de cal", explicou o analista ambiental.
"A história da chegada dos moluscos africanos ao País é uma tremenda picaretagem", resumiu o biólogo, ao descrever a introdução ilegal da espécie, na década de 1980, no Paraná. O caramujo foi apresentado em uma feira agropecuária como uma alternativa econômica ao escargot, molusco europeu usado na alta gastronomia. O interessado pagava entre R$ 3 mil e R$ 5 mil e recebia 30 unidades do Achatina fulica, um vídeo que ensinava como criá-los, um kit ração e a promessa de ganhar dinheiro fácil em pouco tempo.
"As pessoas acreditaram que revenderiam os caramujos para quem comercializou as matrizes, mas isso nunca aconteceu", contou Faraco. "Os agricultores não sabiam o que fazer com uma quantidade enorme de caramujos, que se reproduzem rapidamente. Aí começaram a soltá-los em tudo quanto foi lugar, rios, terrenos baldios, lixões..."
A invasão dos caramujos é um pesadelo para Silva Jardim, que vive basicamente da agropecuária. "Quem tem plantação sofre muito, pois eles devastam mesmo", enfatizou o secretário de Meio Ambiente da cidade, Ezequiel Moraes.
OESP, 03/02/2005, Vida, p. A12
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