Seminário apresenta resultados do Projeto Fauna de Tucuruí

Museu Goeldi - www.museu-goeldi.br - 22/10/2005
Pesquisadores do Projeto Fauna de Tucuruí se reuniram nos dias 20 e 21 de outubro, no Auditório do Núcleo de Altos Estudos Amazônicos (NAEA), em Belém (PA), com representantes da Eletronorte e da Secretaria Executiva de Ciência, Tecnologia e Meio Ambiente do Estado do Pará (SECTAM) para avaliar os resultados do primeiro ano de estudos sobre a fauna da região.

O pesquisador Ulisses Galatti, coordenador do projeto e da Zoologia do Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG), abriu o seminário na manhã do dia 20, apresentando os objetivos gerais do Projeto Fauna de Tucuruí. O projeto é realizado através da parceria entre o Museu Goeldi, Eletronorte e Sociedade Zeladora Amigos do Museu.

O projeto tem por finalidade inventariar e monitorar os principais grupos de vertebrados mamíferos, aves, répteis e anfíbios terrestres e répteis e mamíferos aquáticos - que habitam as áreas de influência do reservatório da hidrelétrica de Tucuruí, no sudeste do Pará. Também são desenvolvidos estudos botânicos e sobre a situação da caça na região. Os cientistas do Museu Goeldi contam também com a colaboração de pesquisadores da Universidade Federal do Pará (UFPA) e do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA).

Segundo Galatti, o monitoramento está priorizando as áreas de soltura dos animais resgatados durante a Operação Curupira, por ocasião da formação do lago, bem como as ilhas formadas pelo represamento das águas. Estas áreas correspondem hoje a duas unidades denominadas Áreas de Proteção da Vida Silvestre, situadas uma em cada margem do lago, que por sua vez compreende a Área de Proteção Ambiental (APA) Tucuruí. Também é objetivo do estudo a identificação de espécies indicadoras ou consideradas especiais para o monitoramento, como as endêmicas, ameaçadas ou indicadoras da integridade ambiental. A identificação de áreas e habitats que necessitem de ações para a conservação da fauna é outra prioridade do projeto, desenvolvido por 12 especialistas, além de estudantes de pós-graduação e pessoal de apoio.

Os estudos estão sendo realizados por cinco equipes que investigam plantas e animais terrestres e aquáticos. Ulisses Galatti, também responsável pelo levantamento das espécies de anfíbios e répteis terrestres, informou que ao longo do primeiro ano do projeto foram realizadas mais de quarenta expedições de campo para coleta de dados da fauna e flora. Nesse trabalho enfrentamos várias dificuldades técnicas, desde a agregação de pessoal qualificado até a identificação das áreas mais apropriadas para o estabelecimento de pontos de amostragem e instalação de armadilhas, afirmou o pesquisador.

Resultados

Segundo os pesquisadores, o inventário de diferentes grupos de fauna está resultando na geração de diversos dados que podem ajudar no estudo dos efeitos causados pela fragmentação de florestas sobre a diversidade das espécies. Os resultados ainda são preliminares e temos ainda muitas informações para serem analisadas e interpretadas, afirmou Galatti, que alertou para o fato de que as áreas pesquisadas ainda estarem sofrendo uma forte pressão antrópica, principalmente de caça, apesar de constituírem áreas de preservação. Praticamente todas as equipes do projeto observaram a presença de atividade de caça nas áreas estudadas, o que indica a necessidade de um maior esforço de conscientização das comunidades locais.

Ao apresentar os resultados do grupo de anfíbios e répteis terrestres, o pesquisador do Museu ressaltou que os mesmos "são grupos considerados sensíveis a variações ambientais. O pesquisador pretende determinar a composição da herpetofauna dos diferentes fragmentos florestais e comparar os resultados das margens direita e esquerda do Lago de Tucuruí.

O trabalho foi realizado em doze pontos de coleta, implantados em ilhas de pequeno, médio e grande porte localizadas nas Zonas de Proteção da Vida Silvestre das Bases 3 e 4 do Lago de Tucuruí. De dezembro de 2004 a junho deste ano foram realizadas cinco amostragens, que resultaram na identificação de 70 espécies, entre anuros, lagartos, serpentes e quelônios. Há diferenças na composição de espécies da herpetofauna entre as margens esquerda e direita do lago, sendo que a margem esquerda apresentou uma maior riqueza de espécies”.

O estudo preliminar mostrou também que o número de espécies identificadas ainda é baixo em relação ao conhecido de outras regiões da Amazônia, o que pode estar relacionada com a fragmentação florestal, o tamanho das áreas estudadas e principalmente com a necessidade de um maior esforço de amostragem. Nos fragmentos maiores foi encontrada uma maior diversidade de espécies, o que está de acordo com outros estudos realizados na Amazônia. Galatti defende a necessidade de ampliação das áreas de amostragem, principalmente em áreas de floresta contínua.

Vegetação

Ainda na manhã do dia 20, o pesquisador Dário Amaral, do Museu Goeldi, apresentou os resultados do inventário sobre a vegetação. Em dois hectares da Base 3 e dois da Base 4, foram mapeadas todas as árvores com diâmetro acima de dez centímetros. O trabalho resultou na identificação de 373 espécies florestais e de mais de duas mil árvores.

Segundo Dário Amaral, as áreas estudadas apresentam uma mesma tipologia vegetal, característica de florestas abertas com cipós e palmeiras. No entanto, há diferenças de composição de espécies entre as duas áreas, o que deverá ser confirmado com análises mais abrangentes, envolvendo novos locais de amostragens, que permitirão identificar possíveis variações de tipos vegetacionais.

Répteis e Mamíferos Aquáticos

George Rebêlo, pesquisador do INPA, encerrou a manhã apresentando os dados sobre os estudos de répteis e mamíferos aquáticos da região. De acordo com Rebêlo, o objetivo principal do estudo é identificar as espécies que ocorrem na área, bem como a sua abundância nos diferentes ambientes.

De novembro de 2004 a agosto deste ano foram realizadas quatro expedições para contagem de jacarés e quelônios, num total de mais de mil quilômetros percorridos em diferentes sistemas de drenagem da região do lago. De um modo geral, o reservatório de Tucuruí abriga uma grande população de jacarés.

Pesquisa pioneira em genética abre a segunda parte do Seminário

A segunda parte do seminário foi iniciada pelo estudo da equipe do professor do Departamento de Genética da UFPA, Artur Silva. Ele apresentou o trabalho de variabilidade genética das populações de guaribas ( Alouatta belzebul) quinze anos depois da construção da Usina de Tucuruí. O professor explicou que a avaliação da variabilidade genética de populações a longo prazo, através da análise de genoma, constitui importante aparato de medição dos impactos de degradação ambiental. O estudo da genética de populações pode constituir instrumento importante no diagnóstico de impactos ocorridos após formação do Lago. Espécies de outros grupos podem ser alvos de estudos similares, conclui.

Aves, Mamíferos e caça

As conclusões parciais sobre os estudos da avifauna de Tucuruí foram relatadas pela pesquisadora Magalli Henriques. Segundo a mesma, as aves possuem potencial para servirem como indicadores de degradação florestal por responderem às mudanças de hábitat em diferentes escalas. Até agora já foram realizados 19 censos de aves aquáticas, tendo sido percorridos aproximadamente 620 quilômetros. Foi identificado um total de 168 espécies de aves pertencentes a 16 famílias em 7528 avistamentos. Além da sua abundância e diversidade e do seu papel como indicador de perturbação em florestas tropicais, as aves desempenham importantes funções ecológicas, como predadores, polinizadores e dispersores de sementes. Esta última função é particularmente importante em florestas tropicais onde cerca de 90% das espécies de árvores tem sementes dispersadas por animais, explicou a pesquisadora.

A pesquisadora Maria Aparecida Lopes, do Centro de Ciência Biológicas da UFPA, apresentou os estudos sobre mamíferos terrestres e não voadores, onde foram utilizadas evidências diretas, através do avistamento de animais, e indiretas, como pegadas e dejetos.

Os resultados preliminares indicam a presença de 37 espécies de mamíferos e espécies cinegéticas (utilizadas como caça).

Há uma série de interesses conflitantes envolvidos com a atividade de caça. Trabalhar com isso não é tarefa fácil”. Consciente da polêmica que a temática sempre suscita, Cristina Oliveira relatou seu trabalho relativo ao monitoramento e elaboração de ações de manejo relacionadas à caça. Segundo a pesquisadora, as principais metas a serem alcançadas são ampliar a discussão em torno da caça, conscientizar a população local sobre os danos gerados pela caça predatória e elaborar estratégias de manejo sustentável para a atividade. Para isso, já estão sendo realizadas atividades de educação ambiental junto às comunidades e já se tem resultados sobre a caracterização da atividade de caça nas regiões das duas Reservas de Desenvolvimento Sustentável da região do entorno do lago: Pucuruí Ararão e Alobaça.

Parceiros institucionais do MPEG no ProjetoFauna de Tucuruí elogiam trabalhos desenvolvidos na primeira fase

Os primeiros resultados obtidos até agora pelo Projeto Monitoramento de Vertebrados no Lago de Tucuruí foram recebidos positivamente pelos apoiadores da iniciativa. Segundo o superintendente de Meio ambiente da Eletronorte, Rubens Ghilard Júnior, a Eletronorte foi muito feliz em ter feito o convênio com o Museu Paraense Emílio Goeldi. Opinião compartilhada pelo gerente do Centro de Proteção Ambiental da UHE Tucuruí, Valter Roma Júnior, que parabenizou os pesquisadores do Museu pelo grande envolvimento com o projeto. O Museu está cumprindo seu papel de forma brilhante. Admiro a paixão com que cada um dos pesquisadores está realizando suas atividades. Na condição de morador de Tucuruí e funcionário da Eletronorte, posso dizer que estou muito satisfeito, acrescentou.

Também os representantes da SECTAM, Lahire Dillon e Ivelise Fiock dos Santos, elogiaram os trabalhos, e manifestaram grande expectativa com a continuidade dos estudos e os resultados que estes trarão como subsídios à gestão da APA.

O primeiro dia do Seminário foi encerrado pelo coordenador do Projeto, Ulisses Galatti, que ressaltou que os trabalhos expostos representam resultados ainda preliminares. Segundo o mesmo, a importância dessa primeira reunião consistiu na oportunidade da apresentação e discussão dos resultados parciais entre os pesquisadores envolvidos no projeto e com a Eletronorte e SECTAM.

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